20 de dezembro de 1943

Há setenta anos, durante a Segunda Grande Guerra um encontro as vésperas do Natal marcou profundamente a vida de dois homens, dois pilotos combatendo em lados opostos. De um lado o ás alemão Franz Stiegler, pilotando seu Messersmith BF109 e de outro lado o Tenente norte americano Charlie Brown, comandando um bombardeiro B-17, com sua tripulação de 10 homens.

O Encontro

Este era para ser um encontro que selaria o destino dos norte americanos;  em sua primeira missão de bombardeiro sobre a Alemanha sua aeronave foi severamente atingida pelos obuses da artilharia anti-aérea e perdeu um dos motores e teve o outro avariado. Impossibilitado de manter o vôo em formação iniciou sozinho o retorno para a Inglaterra, sem a proteção das demais B-17. A aeronave foi então atacada por diversos caças BF-109 e FW-190 , perdendo metade da potência de um motor e diversos sistemas danificados, alem de ter sua tripulação praticamente posta fora de combate, com diversos artilheiros feridos e um morto. O próprio piloto foi ferido no ombro e perdeu a consciência devido a falta de oxigênio e somente recuperou a consciência a cerca de 1000 pés do solo ( 300 metros) e imediatamente retomou o controle do avião. Voando a baixa altitude o bombardeiro foi identificado pela infantaria alemã e imediatamente o aeródromo mais próximo foi acionado.

Franz Stiegler, na ocasião deste encontro tinha um crédito de 22 aeronaves abatidas, faltando apenas mais uma para receber a Cruz de Cavaleiro. Decolou rapidamente com seu BF-109 e instantes depois tinha a B-17 enquadrada em seu visor de tiro. Aproximando-se mais do avião avariado ele viu através dos imensos buracos na fuselagem a tripulação incapacitada e a aeronave totalmente indefesa. Bastariam apenas alguns tiros nos motores e o avião encontraria o solo. Mas Stiegler não era um piloto comum; lutara no norte da África, participava de um seleto grupo de ases alemães e tinha um código de conduta: – nunca atirar em um piloto de paraquedas . Seu primeiro comandante em um esquadrão de caça lhe disse “Se algum dia eu ver ou ouvir que você atirou em um homem em um pára-quedas , eu mesmo vou atirar em você.  Você segue as regras da guerra para você – não para o seu inimigo. Você luta por regras para manter a sua humanidade. Sua bússola moral é mais poderosa do que a sua necessidade de glória.”

Mais tarde disse Stigler:  ‘ Para mim , teria sido o mesmo que atirar em um pára-quedas , eu não poderia fazê-lo “.  Naquele momento o bombardeiro severamente avariado, indefeso, e com sua tripulação ferida lhe pareceu a mesma situação de um piloto em um paraquedas e ele se viu incapaz de selar seus destinos. Tentou então forçar o piloto americano a aterrissar em um aeroporto alemão e se render, mas Charlie Brown resistiu e prosseguiu em seu vôo rumo ao oceano. O piloto alemão então optou por escoltá-lo até atingirem o mar do norte, evitando assim que fossem alvejados pela antiaérea alemã no solo. Ao atingirem o litoral o caça alemão balançou as asas em uma saudação e retornou ao seu aeródromo.

Após voar mais 250 milhas sobre o oceano a B-17 aterrissou na Inglaterra e após informar o ocorrido, seus superiores ordenaram que não comentasse o assunto com nenhum outro oficial, evitando que os pilotos tivessem pensamentos amistosos em relação aos pilotos alemães.

Pós-guerra

Ambos sobreviveram a guerra, Charlie Brown permaneceu na Força Aérea e aposentou-se como Tenente-Coronel , trabalhando depois como funcionário do governo americano.  Franz Stiegler mudou-se para o Canadá e tornou-se um empresário.  Após uma reunião de veteranos em 1986, Charlie Brown resolveu procurar o desconhecido piloto que poupou sua vida e de seus companheiros. Foram quatro anos de busca e finalmente ambos se encontraram em 1990, tornando-se então grandes amigos. Por uma destas ironias do destino ambos faleceram no mesmo ano, 2008.  A vida de Franz Stiegler na Luftwafe  com certeza daria um livro repleto de emoções. Em sua carreira teve 28 vitórias confirmadas, outras 30 não confirmadas por ausência de testemunhas e ainda abateu dois bombardeiros voando com o jato ME-262 já nos últimos dias da guerra. Foi atingido 17 vezes pelos caças inimigos, tendo pousado seu avião em 11 eventos e saltado de para quedas seis vezes. Em um de seus combates, após arrancar a asa de um P-47 a mesma atingiu seu avião, seccionando a cauda e obrigando-o a saltar. Um exímio  piloto no campo de batalha e um cavalheiro da velha estirpe dos guerreiros de honra..

A História deste encontro e dos dois pilotos encontra-se no livro “ A higher call”, em português seria traduzido como “Um chamado superior”.

 

Fontes: dailymail.uk,  valorstudios.com,  aviationartstore.com, wikepedia,