Reinaldo Neves

 

Retornei ao PAMA-LS.  Quis ainda ver, talvez pela última oportunidade pintados nas cores da FAB, os aviões que por tantas décadas serviram às nossas Bases Aéreas.

Puro saudosismo, pois volta e meia ainda me pego lembrando aqueles anos oitenta, em Santa Maria, RS, quando eu, na época Terceiro Sargento Armamento, ia para a pista instalar os porta-bombas nos Regentes do nosso Esquadrão e prepará-los para missões de treinamento de Lançamento de Cargas. Estes treinamentos eram realizados na pista de grama lateral a pista principal. Naqueles bons tempos ainda havia fartura de horas de vôo, as aeronaves não eram velhas e/ou canibalizadas e, acima de tudo, meus olhos brilhavam de alegria e satisfação a cada missão realizada a contento, a cada decolagem de Regentes, Xavantes e Sapões (UH-1H).

Em um típico “dia de Base Aérea”, geralmente no meio da semana, o tráfego aéreo era recheado de decolagens e pousos de helicópteros, caças e aviões de transporte, vindos de outras unidades, seja em missões administrativas ou operacionais. Caças F-5 da Base de Canoas, Hércules C-130 , Búfalos C-115 e Pumas CH-33, oriundos das Bases do Rio de Janeiro e um vai e vem de Bandeirantes C-95, estes pertencentes aos diversos Esquadrões de Transporte Aéreo espalhados pelo Brasil, todos a preencher nossos dias e entoar nos nossos ouvidos a bela música de seus motores. Sim, meus amigos, motor de avião funcionando é música para os amantes e entusiastas da aviação, que nunca se cansam de admirar e apreciar estas belas aves metálicas, fruto dos sonhos de Da Vinci, Lillenthal e Dumont. O que diriam estas mentes brilhantes se pudessem hoje ver o fruto de seus sonhos e projetos no atual estágio de desenvolvimento?  Com certeza Da Vinci estranharia o som dos motores, as turbinas a jato a pleno, algo que na Idade Média seria imediatamente associado a um mitológico dragão rugindo e cuspindo fogo e muito provavelmente ele se apaixonaria pelo motorzão radial do T6; afinal todo aficcionado pela aviação nunca esquece o som do Pratt & Whitney R-1340 Wasp de nove cilindros!

Retornando ao presente mês de janeiro de 2012 estava eu, lá no Parque a viajar nas lembranças, quando vi um casal observando e anotando dados de alguns aviões. Apresentei-me a eles, puxei conversa e após alguns minutos conheci um casal de advogados que nutrem paixão e entusiasmo pela aviação. Há oito anos ele arrematou um Regente L-42 também ali no Parque de Lagoa Santa, recuperou-o, voou com ele por um tempo e posteriormente passou-o para outro aviador. Agora procurava novamente outra aeronave para, em sua oficina, lentamente restaurar cada detalhe, mantendo a originalidade e, de novo colocar a ave metálica em condições de voar. Na outra extremidade do hangar três homens discutem animados ao lado do Regente 2226, um dos mais completos e vistosos do Leilão. Puxo conversa e tenho ali um investidor, um piloto e um mecânico, ávidos por encontrar uma boa oportunidade de negócio. O investidor me diz que está estudando para tirar o brevê, pretende adquirir um avião em condições de vôo imediato e outro para recuperação e venda. Está muito entusiamado, corria de um lado para outro, puxava o mecânico para mostrar algum detalhe, às vezes parava e ficava olhando as aeronaves com aquele olhar característico de uma criança quando se vê no Beto Carrero e não sabe por onde começar…

Também há interessados nos U7 Sêneca, mas este avião não tem para mim o mesmo carisma , a mesma paixão que o velho Regente; afinal os Sêneca existem em profusão pelo Brasil e mundo afora, a sua utilização provável será em Escolas de Aviação e Taxi Aéreo, meramente como negócio, sem  nenhum apelo conservacionista.

Confesso que estou tentado a esquecer minha atividade jornalística e também me aventurar no pregão, quem sabe adquirindo um dos aviões desmontados, e aos poucos recuperar sua condição de pássaro, dar-lhe uma pintura camuflada, instalar dois lançadores de foguetes desativados e exibi-lo nos eventos aero desportivos pelo país.

Sonhar com  aviação é tudo de bom …