Voamos o PZL M28, candidato a servir ao Exercito Brasileiro.

Reinaldo Neves

Desde a sua criação, em 1941, a Força Aérea Brasileira tem entre suas diversas atribuições o apoio às atividades do Exercito Brasileiro, em especial na região amazônica. Esta região, ainda hoje extremamente carente de recursos tem nos Pelotões de Fronteira um dos pontos de contato e apoio aos habitantes.  A partir do final dos anos 60 e até início do século 21 a FAB apoiou a logística do Exército utilizando-se das robustas aeronaves C-115 Bufalo, avião reconhecido pela  sua excepcional capacidade STOL e operação em pistas não preparadas. Com a desativação destas aeronaves em 2005, o Exercito vem enfrentando crescentes dificuldades na consecução destas missões, impossíveis de serem realizadas somente com o uso de helicópteros . Assim, após estudos realizados pelo Alto Comando, decidiu-se pela compra de aeronaves de asa fixa que possuam uma boa capacidade de carga, características STOL (Short Take-Off and Landing, decolagem e aterragem curta), capacidade de operação em pistas não preparadas, baixo custo de manutenção e alta disponibilidade.  Uma das alternativas é a Aeronave PZL M28, trazida ao Brasil pela Sikorski, empresa do Grupo Lockheed Martin e que tivemos a oportunidade de voar, na tarde nublada do dia 6 de Abril, no Aeroporto de Jacarepaguá, RJ.

PZL M28

Fabricado pela  PZL  Mielec, fabricante polonês, o avião é originário do projeto soviético Antonov M28, descontinuado após o desmantelamento da URSS . Uma nova aeronave, modernizada e em um padrão ocidentalizado realizou seu primeiro vôo em 1993 , com o nome PZL M28 Skytruck . Suas características básicas são:  Aeronave bimotora de asa alta, estrutura em metal, possuindo dois estabilizadores verticais.  O seu trem de pouso é do tipo triciclo não-retrátil , os motores são Pratt & Whitney PT6 com hélices de 5 pás. Velocidade de cruzeiro de 244 Km/h, máxima operacional de 355 Km/h.  Operando em condições “full” decola em 550m e pousa em 500m de pista.

Voando o M 28

No Aeroporto de Jacarepaguá, em uma sala VIP da Lider, foi realizada a apresentação virtual da aeronave, exibindo na tela suas diversas características/capacidades. Na sequência uma Van nos levou à aeronave e após a apresentação da tripulação embarcamos pela porta traseira. Estando todos sentados a bordo o piloto explanou como seria nosso vôo, incluindo decolagem e pouso curtos, demonstração da abertura da porta traseira para lançamento de carga/paraquedistas, curvas fechadas e vôo em baixa velocidade (stall). Durante os cerca de 30 minutos de vôo, sobrevoando o oceano da orla do Rio de Janeiro e algumas montanhas, pudemos perceber as excelentes características  de vôo do modelo, exatamente como haviam sido citadas no brieffing. O pouso foi realizado nos moldes STOL, com a aeronave se aproximando da pista em grande ângulo de mergulho e após o arredondamento, um pouso suave e extremamente curto.  Após o vôo retornamos à área da Lider e nos despedimos da equipe  da empresa.

Sobrevoando a orla do Rio de Janeiro e abertura da porta traseira em vôo

impressões do vôo

– Aeronave de aparência compacta, porém de grande capacidade interna. No modelo em que voamos estavam instaladas duas macas de campanha, três bancos laterais de apoio às macas, três assentos individuais à esquerda e dois assentos duplos à direita. Nesta configuração “Combi” podiam ser transportados (além dos 2 pilotos), 1 mecânico (jump seat), 7 passageiros, 2 pacientes e 3 médicos/enfermeiros.

– Vôo estável, confortável e sem sobressaltos, mesmo em curvas fechadas e pouso STOL. Nível de ruído baixo, proporcionado pelo excelente isolamento acústico. Abertura da porta traseira em vôo sem alteração na estabilidade e sem refluxo do ar para o interior da aeronave.

Guincho interno com capacidade de 500 Kg

A posição do jump seat não prejudica os passageiros

Pontos positivos

–  Motores Pratt Whitney PT 6, de ampla utilização no mercado mundial, inclusive na FAB, o que poderá facilitar e reduzir custos nas atividades de manutenção.

–  Aeronave com asa alta, dificultando a ingestão de detritos no motor, quando operando em pistas não preparadas. As asas altas também facilitam a visualização do solo por parte dos passageiros/observadores, quando em missão SAR ou similar. Ainda neste quesito a aeronave possui duas janelas tipo “bolha”, perfeitas para observadores. Estas também são as saídas de emergência.

– Sistema de guincho de cargas interno . No teto superior à porta traseira está localizado um guincho com capacidade de 500kg de carga, operado por apenas duas pessoas; o operador dos comandos internos do guincho e um operador externo, apenas para direcionar a carga. Este é um “plus” considerável, quando operando em pistas sem apoio.

– Porta traseira. Essencial para o embarque de cargas alongadas, rápido embarque/desembarque de tropas e lançamento de paraquedistas. Esta porta se abre em duas partes.

–  Capacidade para transporte de 17 paraquedistas ou 19 passageiros. Capacidade de carga de 2300 kg.

– Trem de pouso fixo e bastante robusto.

–  Opera em temperaturas de -50 a +50 graus Celsius.

Acima : As 4 mais prováveis configurações  necessárias ao Exército.

Cmt  Czeslaw Zywocki  e Co-piloto Lukasz Lal

Considerações finais

O PZL M28 Skytruck é sem dúvidas, uma excelente aeronave. Apresenta a robustez exigida na parte estrutural para a operação militar em pistas não preparadas e conta com a confiabilidade dos motores P&W PT6. O projeto  apresenta versões testadas e aprovadas em mais de 20 anos de operação, contando ainda com o excelente suporte da Sikorski. Foi-nos informado que o valor de cada aeronave situa-se ao redor de  U$ 6 milhões, com a empresa fornecendo treinamento completo para 2 pilotos e 2 mecânicos /aeronave.  Se o M28 Skytruck vier a ser a aeronave escolhida, cremos que o Exército Brasileiro iniciará suas operações com asas fixas contando com a aeronave ideal para suas missões.

 


Vista do interior da aeronave                                                 Autor em frente ao M-28