No início de 1994 eu havia sido transferido para o Cindacta 2, Curitiba. Devido a situação econômica incerta, com a recente implantação  da URV, os proprietários de imóveis, escaldados pelos malfadados planos econômicos anteriores hesitavam em colocar os imóveis para locação e eu e alguns companheiros também transferidos fomos temporariamente alojados em uma ala improvisada dentro do quartel.                                                                                                                                    No domingo, 01 de maio, enquanto a família se preparava para sairmos eu liguei a TV na pequena sala de estar coletiva e assisti as primeiras voltas da corrida e o acidente. Preocupei-me quando o piloto não saiu do cockpit e percebi que era algo grave quando um dos fiscais de pista se aproximou do carro e não iniciou o procedimento de ajuda na retirada do volante e permaneceu aguardando, com os demais,  a chegada da ambulância. Ayrton foi levado de maca para o helicóptero e uma grande mancha de sangue ficou por alguns instantes visível ao lado do carro, no local onde foram prestados os primeiros socorros, o locutor tentando explicar que era resultado dos procedimentos , na realidade ninguém sabia o que falar.                                                    Fui para o culto na igreja pensativo e com o espírito preparado para o pior. A verdade é que Senna já estava morto ali na pista . Os médicos o levaram para o hospital , tentando quem sabe uma sobrevida ou para evitar o encerramento da corrida ( foi comentado na época, pois pela lei local uma morte na pista encerrava a corrida) ou  para não terem o ônus de uma confirmação fatal sem tentativas de reanimação , enfim cumpriram muito bem seu protocolo e sua função. Nosso herói encerrou ali sua caminhada vitoriosa , nossos domingos perderam um pouco de sua alegria e desde então o país ficou sem um norte humano, físico, palpável, alguém cheio de sentimentos, patriotismo e humanidade.                                                                                                                                    Ayrton Senna não era político, ator, cantor, apresentador de TV, alguém que tivesse iniciado uma carreira dependendo da aprovação e aceitação do público. Sua carreira dependia tão somente de sua habilidade no volante de sua máquina, algo que lhe sobrava, e todos nós ao vermos aquele jovem empunhando com tanto orgulho a nossa bandeira passamos a ver nele o herói que nos faltava. Sua aceitação foi completa e total, de norte a sul e nosso herói se viu então na obrigação de corresponder as expectativas da nação, algo que cumpriu com indisfarçável orgulho, orgulho de seu ofício e de ser um brasileiro. Pela primeira vez na história da F-1 um tricampeão morreu na pista, em primeiro lugar, lutando pela vitória. Seu legado ficou, seus feitos serão sempre lembrados e seu patriotismo nunca será esquecido .

Nosso Muito obrigado, campeão!

 

 

Texto : Reinaldo Neves, editor.

 

Foto 1 –  Réplica do capacete de Ayrton Senna, modelo ano 1988. ( Bienal do Automóvel B.Hte, 2011)

Foto 2 –  Homenagem aos 20 anos da conquista do TRI . ( Bienal do Automóvel B.Hte, 2011)

Foto 3 – Cockpit do caça Mirage 103 voado por Senna . ( Musal, RJ )

Foto 4 – Ayrton Senna se preparando para a decolagem. Foto fornecida por Ivadelson Antonio de Moura, da equipe de segurança da Base Aérea. É o militar que aparece próximo a aeronave.