Reinaldo Neves

Na história aeronáutica e principalmente no meio militar o uso de insígnias representa uma identidade própria de uma comunidade, de um grupo. No início da I Guerra mundial a França foi o primeiro país a identificar seus aviões com um símbolo próprio, sendo seguida pelas demais Forças participantes do conflito. Esta insígnia identificadora da  Força Aérea a que pertence o avião é conhecida como “cocar”. Na Força Aérea Brasileira o cocar tem o formato de uma estrela.

Nos anos seguintes os esquadrões passaram a usar insígnias próprias, do tipo “escudo”, baseados nos formatos utilizados em brasões antigos.  Estes escudos possuem desenhos ou figuras evocativas a alguma façanha ou a finalidade do esquadrão. Possuem diversos formatos , sendo hoje os mais comuns em forma arredondada ou  nos formatos do escudo francês moderno, também conhecidos como  somático ou samnítico, e ainda no formato do escudo espanhol ou  ibérico.

Pode-se dizer hoje, sem medo de errar, que o meio militar é onde mais se encontra disseminado o uso do escudo como elemento visual identificador.

 

Armamento Aéreo

Ingressei nas fileiras da Força Aérea em 1980, aos 18 anos de idade. Após servir um ano e meio no Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa e ter concluído o curso de cabo, prestei concurso para a EEAER, escola de sargentos especialistas de nossa Força Aérea. Na cidade de Guaratinguetá, SP, estudei em regime de internato durante dois anos, escolhendo a especialidade de sargento “armamento aéreo”.  Com o passar dos anos e modificações na estrutura da FAB esta especialidade mudou o nome para Material Bélico, uma identificação mais abrangente.

Na FAB, cada especialidade tinha, na época, um escudo próprio, característico da atuação da especialidade, com ampla liberdade de criação da arte e design. A especialidade de armamento aéreo tinha um dos mais belos e criativos desenhos, criado por um de seus integrantes. Os escudos das diversas especialidades sofreram modificações, caíram em desuso ou desapareceram.

No escudo do “Armamento Aéreo”, vemos o Lobão, figura conhecidíssima nos anos 60 devido as revistinhas em quadrinhos e desenhos animados. Está com o macacão de vôo na cor laranja, que era a cor utilizada na época pelos tripulantes e tem, na cintura um revólver Colt calibre .45, dentro de um coldre e um cinto branco padrão PA. Descendo em queda livre, vem montado sobre uma bomba de 500 libras e maneja uma metralhadora Browning calibre .50. Situando a figura nos anos 60 temos uma imagem do final da época da aviação clássica: – A presença , nos bombardeiros, de um  sargento “armamento aéreo”, ( artilheiro, metralhador ou gunner)com seu macacão de vôo e seu instrumento de trabalho. A bomba era montada, regulada e instalada também pelo “armamento aéreo”. Hoje os bombardeiros B-17, B-25 e B-26 fazem parte apenas da história e dos museus. A figura do artilheiro ainda permanece na FAB nos helicópteros, mas perdeu sua aura de outrora e hoje é uma posição não mais exclusiva do “armamento aéreo”, atualmente “material bélico, sendo operada pelos mecânicos dos esquadrões.

Há um ano iniciei uma busca pelas origens do desenho original  do “Lobão”, mas não consegui localizar seu ponto de origem e descobrir seu autor, que também pertenceu aos quadros desta especialidade. Alguns amigos da ativa me enviaram algumas fotos e desenhos, mas referentes a versões mais recentes , adaptadas aos novos uniformes e designações atuais em uso na FAB. Eu precisava de uma imagem antiga como referência e fui encontra-la nas páginas da minha revista de formatura na EEAER, em 1983. A foto era pequena, mas atendeu ao propósito de resgate das cores  originais do escudo.

 

Processo de design e montagem.

Com as três imagens na mesa, desenhei a mão livre o lobão e seus equipamentos e acessórios bélicos, fotografando a imagem em preto e branco e salvando-a no computador. Colori o desenho com lápis de cor, o que me deu uma idéia da combinação das cores, mas me deixou restrito apenas as 24 cores da caixinha.

Debrucei-me então sobre a tela do PC, auxiliado pelo meu filho André Neves,  e durante algumas horas trabalhei no photoshop, acertando o traço e combinando as cores. Recuperei alguns detalhes que eram apenas sugeridos  na pequena fotografia  da revista, o principal deles o cachimbo na boca do lobão e outros pormenores, como os pequenos aros dourados no cinturão branco ( usado pela Polícia da Aeronáutica ), os estojos da munição sendo ejetados, etc… O resultado final foi um escudo circular com 15 cms de diâmetro, bem detalhado e colorido o mais fidedignamente possível para este editor.

Em uma segunda etapa procurei uma empresa de bordados para a execução física do projeto , não encontrando nenhuma empresa especializada. Esta fase, que julguei ser a mais fácil, tornou-se trabalhosa e dificultada pela demora em encontrar alguma empresa especializada. Enfim, uma bordadeira se prontificou a executar o serviço e finalmente consegui 3 peças bordadas no tamanho de 8,8 cm de circunferência, o que acarretou algumas perdas na qualidade da imagem final. Mesmo assim o resultado final pode ser considerado muito bom, com uma excelente reprodução dos tons de cor originais.

 

Esta matéria e o escudo do “armamento aéreo” são uma homenagem aos militares especialistas que cumpriram suas missões a bordo das antigas aeronaves de bombardeio e helicópteros da  Força Aérea Brasileira.