Andre Felipe Neves

No início de 1960, a Boeing seguiu o sucesso de seu inovador avião 707 com um avião menor, o “727”, o que provaria ser ainda mais popular que seu antecessor. Esta matéria fornece um histórico e descrição do Boeing 727.

Nasce um ícone.

Em 1956, com a Boeing tendo alcançado sucesso comercial com o jato 707, a empresa decidiu se concentrar em um novo avião que pudesse operar em aeroportos menores e atender o mercado de curto e médio alcance. Considerações sobre o projeto levaram à seleção de uma aeronave de três motores, mas que trouxe consigo um grande problema, em parte porque não haviam propulsores disponíveis no momento para colocar a aeronave no ar. Houve também algum nervosismo e contratempos em selecionar os motores porque as regras de vôo da FAA eram mais restritivas para as aeronaves bimotoras do que para aviões de quatro motores, e a FAA não especificou qual o conjunto de regras que se aplicavam a aeronaves de três motores. Após algum tempo a FAA, finalmente, decidiu que as regras para a aeronave de quatro motores se aplicariam a aeronaves de três motores.

Outra fonte de preocupações foi que, enquanto a Eastern e a United Airlines estavam interessadas no novo avião, os pedidos de pré-entrega não tiveram uma taxa satisfatória, mas uma decisão foi tomada em 1960, para prosseguir com o desenvolvimento de qualquer maneira.

O primeiro “727” foi então lançado em novembro de 1962, com o vôo inicial em 9 de Fevereiro de 1963. A tripulação era composta pelo piloto Lew Wallick, co-piloto Dix Loesch e o engenheiro de vôo MK Shulenberger. A tripulação ficou impressionada com a aeronave, mas tirar o 727 para fora do hangar acabou saindo mais caro do que o previsto. As dificuldades acabaram sendo resolvidas, e a produção inicial do “727-100” foi certificada no final de 1963, com o Boeing 727 vendendo então tão rápido quanto eles poderiam ser construídos.

O 727 era um avião elegante, e na década de 1960, parecia extremamente futurista, uma máquina do espaço, como algo que tivesse acabado de sair do seriado da TV “Os Jetsons”. O 727-100 foi construído principalmente com a utilização de ligas de alumínio, sendo alimentado por três motores Pratt & Whitney (PW) JT8D turbofans, um montado em cada lado da cauda enquanto que o terceiro motor foi montado na cauda, com uma entrada na base desta.

O motor inicial foi o JT8D-1, com 62,3 kN (6350 KGP / 14000 lbf) de impulso, mais tarde veio o JT8D-7 , com o mesmo impulso mas capaz de manter a potência em temperaturas ambientes mais elevadas e, finalmente, o JT8D-9 com 64,5 kN (6575 KGP / 14500 lbf) . Todas estas configurações foram oferecidas como opções para as cias compradoras. O Boeing 727 tinha um AirResearch GTC85 como unidade auxiliar de potência (APU), algo inovador na época e padrão nos dias de hoje, cuja função era proporcionar a força necessária para a  partida do motor. O APU foi colocado na seção central da asa. O 727 tinha trem de pouso triciclo, sendo que todos os conjuntos tinham rodas duplas. O trem do nariz se retraia para a frente, enquanto o trem principal articulava das asas em direção à fuselagem.

A capacidade máxima de passageiros era de 129 assentos, mas isso em uma configuração estilo “carro de gado”, sendo uma configuração de classe única mais razoável de 110 assentos, enquanto uma configuração típica de duas classes transportava 24 passageiros na primeira classe e 72 assentos destinados a classe econômica. Havia uma porta de passageiros sobre a fuselagem frontal esquerda com uma escada, uma porta de serviço na frente da asa à direita da fuselagem; duplas saídas de emergência sobre cada asa e, não convencional, uma porta com uma escada suspensa sob a cauda.

Versão cargueira

Em uma tentativa de ampliar o mercado, imediatamente a Boeing anunciou o 727-100C, modelo conversível entre carga/passageiros, com o piso reforçado e uma larga porta de carga no lado dianteiro esquerdo, contando ainda com sistema de acomodação de cargas igual ao do 707-320C. Em comparação com o 727-100 básico, que possuía acomodação para 94 assageiros em classes mistas ou 131 em configuração de alta densidade, o 727-100C poderia ser totalmente cargueiro ou ter capacidade de operar em modo misto, com carga e passageiros ao mesmo tempo, graças a um sistema de anteparos móveis, apenas trocando parte da capacidade de passageiros pelo espaço necessário para a carga prevista daquele vôo. Logo em seguida, foi anunciado o 727-100QC (Quick Change), que possuía assentos, cozinhas e banheiros paletizados, permitindo uma mudança entre uma configuração totalmente passageiros para totalmente cargueira em apenas uma hora. O primeiro 727-100C entrou em serviço em 23 de abril de 1966 com a Northwest Airlines e o modelo inicial do 727-100QC em maio do mesmo ano na United Airlines.

Versão 727-200.

Com o 727-100 provando ser popular, a Boeing decidiu introduzir uma versão “esticada”, o novo modelo foi designado Boeing 727-200 e não tinha diferenças significativas em relação ao 727-100, exceto pela inserção de duas extensões de 3,05 m, uma antes e outra após o trem de pouso. A capacidade de combustível, peso bruto e motorização permaneciam inalteradas, deixando aos compradores a decisão de optar por mais combustível e alcance, com menor capacidade de passageiros ou até um total de 189 passageiros, com menos combustível e um alcance menor. O primeiro vôo desta versão ocorreu em 27 de Julho de 1967.

O 727 serviu a grande maioria das companhias aéreas no Ocidente até os anos 1990, quando começaram a sair de serviço devido as grandes altas nos preços dos combustíveis , tornando esta aeronave economicamente inviável para voar, especialmente no transporte de passageiros. Ainda hoje diversas aeronaves  permanecem em serviço, sendo que algumas dotadas de winglets.

continua…

 

 

Pesquisa e tradução: Andre Felipe Neves

Fontes de pesquisa:

Deltamuseum.org / flyaow.com / Boeing.com / flightlevel350.com / museumflight.com /

Fotografias : museumflight.com  /  asasmetalicas