A Última Missão

B-25 5133,

 

B-25 5133, preservado na base Aérea de Natal , sendo aeronave do mesmo modelo da acidentada.  Coincidentemente ambas serviram na Escola de Especialistas da Aeronáutica, em Guaratinguetá, SP.

Situado na zona oeste da cidade do Rio de janeiro , o distante bairro de Santa Cruz é sede da Base Aérea homônima, unidade militar da Força Aérea que desde o pós guerra opera aeronaves de caça e também de patrulha marítima.  Bastante movimentada, durante o dia diversas aeronaves de outros esquadrões por ali passam, em vôos de treinamentos e de suprimento. Além desta rotina, militares vem realizar cursos e estágios , aproveitando-se de sua infraestrutura  e aeronaves.
Semestralmente, a Escola de Especialistas de Aeronáutica, situada em Guaratinguetá, SP, envia alunos de diferentes especialidades para realizarem estágios antes de sua formatura.   Estes estágios coroam uma jornada de dois anos estudando em regime de internato, e são uma oportunidade na qual os instruendos vivem a realidade do dia a dia de uma unidade aérea da FAB.

Na manhã de 31 de Outubro de 1968 os 9 alunos da especialidade de Armamento Aéreo estão excitados. Chegaram para o estágio na segunda, dia 28 de Outubro e se instalaram no alojamento das praças. Nesta manhã de quinta feira todos acordaram muito cedo, ansiosos e nervosos com o grande desafio que os aguardava: – a realização do Tiro Aéreo ! Este treinamento era oriundo dos aviões utilizados na Segunda Guerra e que ainda faziam parte do inventário da Força. Era também motivo de grande orgulho pois,  dentre as centenas de alunos do Curso de Sargento especialista,  somente eles realizariam esta missão de tiro Aéreo.

A Missão

No pátio das aeronaves, uma ave metálica os aguarda. A aeronave era o bombardeiro bimotor North American B-25 Mitchell, prefixo 5143, pertencente à própria Escola de Especialistas, sendo utilizado para treinamento em vôo de especialistas mecânicos , fotógrafos, radio-operadores e armamento.  Este modelo de aeronave foi também a primeira unidade da FAB a entrar em combate na Segunda Guerra, quando um B-25 em patrulha próximo a Fernando de Noronha foi atacado por um submarino, com artilharia anti-aérea e revidou bombardeando-o com uma dezena de bombas de 45Kg ( na época o Brasil ainda estava neutro).

O Chefe do Curso de Armamento, Capitão Enir,  reuniu os alunos e realizou um último brieffing, lembrando-os dos detalhes da missão e sobre a segurança em vôo. A seguir, todos embarcaram , os motores giraram e lentamente o 43 se dirigiu para a cabeceira da pista. A bordo, 2 pilotos, 1 mecânico de vôo e 1 Radio-telegrafista formavam a tripulação.  Para a instrução aérea embarcaram 1 oficial e 3 sargentos especialistas, além dos 9 alunos. Durante o vôo os instrutores se revezariam na posição do artilheiro , no “nariz” do avião. As 07:21 o B-25 decolou e rumou para a Restinga da Marambaia , local próximo a Base Aérea e onde funcionava um Estande de Tiro Aeroterrestre.  Nas horas seguintes todos seguiriam a rotina do circuito de tiro e o revezamento dos artilheiros.

 

A Tragédia

Encerrada a instrução, hora de retornar para a Base Aérea. A aeronave  se afasta da Marambaia e o piloto resolve fazer  um vôo panorâmico a baixa altura, próximo as praias do Rio de Janeiro, com todos apreciando o belo litoral carioca. Esta extensão do vôo para apreciação do litoral era uma pequena recompensa pelas últimas horas envolvidas na missão. No retorno, por razão desconhecida, ele segue em frente na região do Recreio e ao tentar passar sobre o morro da praia de Grumari a aeronave estola (perde sustentação) e cai “placado” próximo ao topo do morro, espatifando-se e explodindo. O teto baixo de nuvens esconde da visão dos pescadores e moradores o clarão do fogo e a fumaça  do incêndio dos destroços. A bordo, todos morrem instantaneamente, na violência do impacto.

O ronco dos motores e o estrondo do impacto é escutado por um lavrador e graças a esta informação uma equipe do Parasar encontra os destroços por  volta de 01:00 do dia 01 de novembro.  Durante a noite os homens lutam contra a montanha de mata fechada e locais íngremes e escorregadios até que, finalmente, as 08:00 o trabalho de resgate dos restos foi encerrado.

Terminou ali a carreira de aviadores e especialistas, partindo em seu último vôo enquanto executavam a sua profissão e vocação. Quis também o destino que 9 jovens tivessem o seu sonho abreviado e não mais retornassem a casa dos pais, indo para os braços do Pai Celestial. Quanto ao B-25J 5143, após mais de 20 anos voando nas cores da FAB, tendo sido pilotado por dezenas de diferentes pilotos e realizado centenas de missões não pode trazer de volta à segurança da Base Aérea a sua tripulação.  Há exatos 50 anos, as 10:45 da manhã do dia 31 de Outubro de 1968 o Bombardeiro encerrou a sua última missão.

 

Tripulação:
Cap Av Helio do Amaral Teixeira e Ten Av Marlio Adão Müller, 2Sgt QAv Luis Fernando Caldi e 2Sgt RT-VO Geraldo Ferreira da Silva.
Instrutores de Armamento:
Cap Esp Arm Enir Vieira de Magalhães, 1Sgt QAR Vinicius Palmeira da Silva, 3Sgt QAR Antonio Vicente Silva e 3Sgt QAR Afonso Celso Giannico.
Alunos:
Roberto Jorge,  Eduardo Ferreira Cardoso, Francisco Moreira Filho, Fernando Melo Viana Sena, Jaber Tiradentes Coelho, Silvano Honório Câmara, Benedito Edésio da Silva, Adamor da Silva Braga e  Epaminondas Aguiar de Lima.

Texto: Reinaldo Neves, editor do site e ex-aluno 81-1105 Reinaldo, da Turma 179 “Branca 81” !
Agradecimentos ao Cap Ref Magalhães,  José de Alvarenga e Sgt BMB Ribeiro.

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